ISF-Dicas & Experiências  
   
   
  Por:EGLAER Em 25/07/2016

ANDANDO NA CHUVA
 
   
   
  (procure andar sempre com roupa de chuva apropriada)

Início da chuva é uma das horas de maior acidentes, pois a quantidade de água ainda não foi suficiente para lavar a pista, e ao se misturar com resíduos de óleo e poeira forma -se uma " borra " muito escorregadia.



NA CIDADE

Evite o canto interno das curvas, onde acumula sujeira da chuva, bem como óleo na pista, tornando lisa e sujeito a derrapagem



POSSAS D´ÁGUA

Evite-as pois podem ser profundas, e também podem provocar aguaplan (perda de aderência entre os pneus e a pista)



NA PISTA DE ROLAGEM:

Na cidade e estrada, procure andar onde passa os pneus do veículo (procurando andar sobre os trilhos de veículos pequenos, pois podem evitar o aguaplan, buracos e obstáculos a frente),isto vale também para a pista seca.



Na chuva com a pista molhada, suspeita de areia ou óleo, ao fazer curvas evite deitar a moto. Saia levemente do banco, compensando a inclinação da moto.



Tenha mais cuidado nos primeiros momentos da chuva, conforme a sua intensidade, até lavar a pista, tirando a poeira, lama, óleo, etc....

CALIBRAGEM DOS PNEUS

Diminua a calibragem dos pneus (até menos 3 (tres) libras), pois terá mais borracha em contato com a pista, aumentando a aderência

(OBS) Calibrar normalmente os pneus após a chuva)

FREIAR NA CHUVA

Freie com calma, pois os discos molhados secam rápidos e podem "alicatar", causando o tombo. Procure freiar ambas as rodas, com calma e cuidado, para não bloquear as rodas ou não derrapar.


OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:

Muitos motociclistas evitam viajar na chuva por diversos motivos, entretanto, viajar na chuva depende sempre de um pouco mais de calma e tranquilidade,
observando as regras de segurança. Muitas vezes,não sai de casa porque está chovendo,mas se esquece que poderá pegar chuva a 20, 50 ou
100 km
após a saída,então qual a diferença que faz sair com chuva???? Que a
chuva não seja empecilho para viajar, mas esteja preparado para ela. Evite andar com os pés molhados, para não esfriar o corpo, e coloque sacos plásticos (de preferência de super mercado por cima da meia, e
após coloque as botas, estas poderão molhar, mas os pés e o corpo permanecem na temperatura normal(ambiente). Não coloque o saco plastico por cima da bota, pois pode escorregar, especialmente nas paradas ou saídas,

Danificando a carenagem ou pequenas lesões corporais. Utilize e vista a roupa de chuva (que deverá estar em local de fácil acesso,preferencialmente em cima da carga) enquanto a roupa que estiver viajando esteja seca. Independente de ter sol ou não, quando for fazer um passeio, leve a roupa
de chuva. Havendo muito frio, ou vento, utilize a roupa
de chuva, independente de estar chovendo, o motociclista ficará mais protegido, e mantém o calor do corpo.
 
   
   
  Por:DIEGUITO Em 22/07/2016

13 Ensinamentos para as Garupas
 
   
   
  Muitas surpresas estão à espera daquelas que sem planejar acabam se tornando namoradas de motociclistas. E nem estou falando sobre velocidade, adrenalina, perigos ou todas aquelas coisas que nossos pais usam como justificativa para nos proibir de andar de moto quando somos mais novas.

Me refiro à descoberta de um mundo que poucas namoradas têm acesso, que é um mundo de extremo companheirismo e uma segurança diferente, que somente quem vive essa experiência é capaz de sentir.

Dedico esse texto à todas àquelas que ainda não tiveram o prazer de entender a importância da palavra “garupa” na vida de um motociclista. Também aquelas que compartilham do meu sentimento pois sabem do que estou falando ;)

1. Moto não é lugar de roupa curta
Nem pra ele, nem pra gente. Não é por questão de estética, mas sim de segurança. Por mais que esteja calor, é necessário usar roupas que protejam o corpo em caso de situações inesperadas que não dependem só da condução do motociclista. O ideal seria utilizar roupas próprias para viagens de motos, principalmente ao pegar estrada, mas, se não tiver, ao menos usar uma calça, bota e jaqueta que protejam o corpo.

2. Ele não prefere a moto
Assim como nós, ele quer ao lado dele uma pessoa parceira. E ser companheiro é estar junto do outro em tudo aquilo que o faz feliz. Tudo bem se a namorada não gosta de moto ou tem medo… Só não é justo proibí-lo de pilotar ou ficar emburrada quando ele sair sozinho. Afinal de contas, todos temos nossas paixões e queremos que o outro participe delas conosco.

3. “A felicidade se encontra nas coisas mais simples da Terra”
E não é que o Armandinho tinha razão? Em nosso caso, a gente se dá conta disso quando percebe que para viver uma boa aventura de moto não é necessário se produzir toda ou usar roupas da moda. Isto porque, aquela roupa de proteção e/ou de chuva vai fazer parte dos nossos “looks do dia” mais do que a gente imagina. O “onde” se torna mais importante do que o “como estamos vestidas”.

4. A gente acaba ganhando um “filho”
Calma, eu explico! Estou falando do capacete, que passa a ser companheiro fiel independente da ocasião. Mas a gente se acostuma com a presença dele inclusive em refeições de encontros românticos.

5. Esqueça os penteados
Simples assim. O capacete acaba com qualquer coisa bacana que a gente faz no cabelo. Mas pelo menos ficamos com um charme que é só nosso. Principalmente aos olhos dele. Hehe

6. Frescura não tem vez
Pelos motivos anteriormente citados, a gente aprende a levar uma vida mais leve e aproveitar as coisas que realmente importam. Longe do luxo e ostentação aprendemos a admirar as coisas como elas são.

7. É inevitável pesquisar sobre motos
Pois é, esse assunto pauta muitas das conversas do casal e ninguém gosta de estar por fora de um assunto que agrada a pessoa que a gente ama, né?! Além disso, por muitas vezes somos companhia para assistir aquele “motovlog” que ele tanto gosta.

8. Uma moto une as pessoas
Simplesmente porque a segurança dos dois depende da harmonia que precisa rolar a cada curva. Mesmo estando brava com ele por algum motivo, a gente acaba se rendendo à sintonia que o momento pede.

9. É preciso aprender a driblar o sono
Principalmente para aquelas que, como eu, só de pegar uma estrada boa, numa velocidade constante por muito tempo, os olhos já começam a fechar… Dica: Cantar uma música ajuda, rs.

10. Capacete pode ser sinônimo de reconhecimento
Se quando o assunto é Playstation, dar o play 1 para a pessoa amada é prova de amor, no mundo das motos, sortuda é quem anda com o melhor capacete, geralmente o do namorado, que gentilmente cede pra gente como demonstração de reconhecimento e cuidado.

11. Ser garupa numa custom é para as fortes!
Já diz o velho ditado: “tudo tem seu preço”. No caso de uma custom, a beleza e estilo da moto escondem a dureza e desconforto que é ser garupa por muito tempo. De vez em quando é necessário dar uma ajeitadinha no corpo para relaxar os músculos, mas nada que um bom descanso depois não resolva! (Se pedir com jeitinho, ele faz uma pausa para esticarmos as pernas)

12. Eles não esperam que nos tornemos pilotas de moto
Não é preciso ficar encucada achando que o namorado espera que a gente se torne motociclista e compre nossa própria moto para o rolê ficar mais interessante. É claro que seria bacana se isso acontecesse, mas, o que importa mesmo é o valor que eles dão por ter uma garupa parceira!

13. A gente descobre uma nova paixão
A menos que haja traumas ou um medo absurdo de andar de moto, a gente se apaixona pelo prazer e sensação de liberdade que um passeio de moto proporciona. O fato de vivenciar isso coladinha nele deixa tudo mais gostoso!

Autor: Jaqueline Ribeiro
 
   
   
  Por:EGLAER Em 21/07/2016

DICAS PILOTAGEM NA CIDADE
 
   
   
  Atenção companheiros Motociclistas leiam com atenção

1º - Estas dicas foram elaboradas para você motociclista, pilote com a máxima segurança.

2º - Em pistas rápidas, onde os veículos trafegam acima da velocidade permitida, mantenha - se na faixa da direita para a sua maior segurança caso você esteja numa velocidade inferior a dos outros veículos. Facilite as ultrapassagens. Neste caso, tente não pilotar em velocidade baixa, mantenha o máximo indicado na via, ou compatível com sua segurança, respeitando sempre a segurança.

3º - Mantenha o farol baixo sempre ligado, mesmo de dia, mas bem regulado, para não atrapalhar a visão dos outros veículos. Como a motocicleta é um veículo pequeno, isso ajudará os outros veículos a lhe notar no trânsito, aumentando a sua segurança.

4º - Início da chuva é uma das horas de maior acidentes, pois a quantidade de água ainda não foi suficiente para lavar a pista, e ao se misturar com resíduos de óleo e poeira forma -se uma " borra " muito escorregadia.

5º Quando o trânsito estiver parado, preste atenção nos pedestres que atravessam a pista fora da faixa de segurança.

6º - Em congestionamento é essencial para sua segurança manter a prudência e a velocidade baixa, trafegando no máximo a 20 Km/h, pois com esta velocidade é possível ter reflexos mais rápidos para quaisquer imprevisto que possam surgir.

7º - No trânsito sobrecarregado redobre a atenção e diminua a velocidade, pois os automóveis podem mudar de faixa sem prévia sinalização.

8º - A " confiança " pode levar a um acidente. Nunca deixe de estar atento ao pilotar sua motocicleta até chegar ao seu destino, mantendo sua postura e memorizando o trajeto a seguir.

9º - Sempre permaneça em local visível aos motoristas. trafegar do lado esquerdo mantendo distância do automóvel a sua frente é ideal.

10º - Ao trafegar por vias onde os veículos estão estacionados ou ônibus parados no ponto, diminua a velocidade prestando muita atenção pois pedestres podem aparecer inesperadamente para atravessar a rua.

11º - mantenha distância, se possível, evite trafegar atrás de veículos altos, tais como furgões, ônibus e caminhões que não permitem ver o que acontece à frente.

12º - Nunca se envolva em discussões no trânsito.

13º - O capacete é um equipamento necessário e muito importante para a sua segurança. Use sempre cores claras e nunca deixe de prendê -lo. No caso de capacete aberto, use óculos de proteção.

14º - A motocicleta sempre deve estar em boas condições para trafegar, para sua própria segurança : parte elétrica, mecânica e pneus sempre em ordem. Faça uma inspeção periódica toda vez que for sair com sua motocicleta.

OBS: Quando for sair de moto tenha responsabilidade, e se for levar alguem em sua garupa, tenha o dobro de atenção, pois a vida da outra pessoa esta em suas mãos !

Dicas para uma pilotagem melhor !!!
--> Pilotando entre corredores de carros ou no momento de uma ultrapassagem, faça com que o motorista a sua frente enxergue você e saiba o que pretende fazer. Posicione de maneira a enxergar o rosto do motorista.

--> Em caso de pista molhada, utilize as marcas deixadas pelos pneus dos carros. Nestas marcas a quantidade de água no asfasto é menor e a aderência do pneu melhora.

--> Na chuva com a pista molhada, suspeita de areia ou óleo, ao fazer curvas evite deitar a moto. Saia levemente do banco, compensando a inclinação da moto.

--> Na chuva, cuidado com poças de água. Podem esconder buracos ou pedras. Diminua a velocidade e evite passar sobre elas.

Ao se deparar com um obstáculo (como buraco ou lombadas) em alta velocidade, procure freiar até próximo do mesmo, mas transponha o obstáculo com os freios soltos, deixando para freiar após o obstáculo. O impacto do obstáculo com as rodas presas é maior.

--> Ao trafegar em corredores de carros parados, cuidado com pedestre atravessando em meio aos carros. Diminua a velocidade.

--> Alguns motoristas geralmente dão passagem as motos. Agradeça o gesto.

Em pistas ou ruas de mão duplas, evite ultrapassar em meio ao corredor. Só ultrapasse se tiver certeza que o veículo a sua frente não irá virar a esquerda e irá deixar você realizar a ultrapassagem. Dê preferência quando a fila diminuir a velocidade (em uma lombada ou sinal por exemplo).

 
   
   
  Por:EGLAER Em 19/07/2016

DICAS DE VIAGEM - Preparação de Bagagem
 
   
   
  Preparação da Bagagem
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Como preparar a minha bagagem, o que levar, dicas interessantes por quem tem o pé na estrada.

1.Planejamento
Como sempre o planejamento antecipado é fundamental numa viagem de moto, assim sendo arrumar as malas também é um item importante do seu planejamento.

2.Onde levar a Bagagem
Antes de sugerirmos como arrumar as suas coisas, vamos abordar um assunto muito importante, onde levar a bagagem! Em primeiro lugar a segurança, assim a sua bagagem deverá ser distribuída e adequadamente presa na moto, para que esta não se torne um problema. Nas viagens longas a bagagem deverá ser colocada em alforges, malas laterais, top cases, malas de tanques ou até amarrada na moto, nunca jamais em mochilas nas costas, na sua ou da sua garupa. A mochila nas costas após 200 Km vira uma verdadeira mala sem alça, para você ou a sua garupa, vai chegar num ponto que da vontade de jogar a mochila longe e doar todas as suas roupas, sem contar nas dores e desconforto que proporciona a mochila. Conforto em viagem é fundamental, pois se transforma em segurança também.

3.Garupa
Eu sempre digo, garupa sofre e sofre muito, assim aqui vai uma dica de quem foi garupa por anos seguidos, você que pilota e nunca teve a oportunidade de ser garupa, experimente um dia ser garupa, você vai ver o quanto ele sofre, é um verdadeiro filme de horror. Assim sendo para que a sua viagem não se torne um programa de "índio", respeite o limite físico e emocional da sua garupa, curta o prazer de ter alguém com você nestes momentos tão especiais, que é viajar de moto. Alias filosofando um pouco, posso dizer que sozinho se vai mais rápido, mas não tão longe! Se o garupa não estiver confortável e feliz com certeza a sua viagem não será tão proveitosa e muitas vezes você terá que dar ½ volta antes do tempo.

4.Bagagem
Bom depois deste desabafo, vamos ao que interessa, o que eu vou levar na minha viagem. Após tantas viagens, acho que consegui reunir experiência suficiente para poder dar uma mãozinha para vocês. Primeiramente passe numa loja de R$ 1,99 e compre pequenos frascos de plástico para colocar shampoo, protetor solar, sabão liquido de lavar roupas, pasta de dente. Não vale a pena você levar um tubo inteiro de pasta de dente se você só precisará de ¼ dele, o desodorante deve ser em pasta, para evitar vazamento (principalmente em locais altos. Agora você esta delirando, eu uso um shampoo ela outro, ela usa um tipo de desodorante e eu não abro mão do meu XXX, ah!!!! Meu amigo agora chegou a hora da verdade, alguém vai ter que abrir mão de alguma preferência para o outro, grande teste para o casal. Todo o espaço economizado na ida, volta cheio. Depois monte um kit básico farmacêutico, somente para as necessidades de estrada e remédios de seu uso cotidiano, se a viagem for para o exterior não deixe de incluir: ampicilina (dor de dente), antiinflamatórios e remédios de uso controlado, pois lá fora você terá de passar num médico para poder adquirir estes produtos. Depois é só completar com anti-térmicos, gaze, algodão, anti-séptico e esparadrapo. Um bom canivete, com ferramentas básicas, também é muito útil além das ferramentas da moto.

5.Lista de Roupas
Antes do mais nada a nossa sugestão de roupas é para que viaja de moto, não vai participar de nenhum concurso de modelo, e a lista abaixo é para um período de 7 dias.

Homem-
Calça Jeans –Bermuda ou Short – 4 Cuecas- 4 Meias
-2 Camisas Legais 4 Camisetas Básicas 1 Chinelo- 1 Tênis ou sapato

Mulher-
Calça Jeans – 4 – Calcinhas – 2 Sutiens - 4 Pares de Meia
- 1 Calça de Ginástica ou leg de lycra (Pode ser usado por baixo durante a viagem) 4 Camisetas Básicas- 2 Camisas ou blusa mais transadas
- 4 lenços para o pescoço ( cada dia você usa um diferente, parece que você mudou de roupa) 1 Bermuda – Sapato confortável –Sandália Baixa Toda a roupa deverá ser acondicionada em saco plástico, mesmo que a sua mala seja impermeável.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

O 4º Cataratas Moto Fest e O 4º Festival de Motociclistas de 2012 ou De Como Parti Sem Nada e Voltei Com Menos Ainda
 
   
   
  A origem da rota desta viagem teve 3 motivos principais, a saber: A promessa que eu havia feito em 2011 ao Alejandro de estar presente ao 4º Cataratas Moto Fest em Puerto Iguazú – Misiones – Argentina. A desmesurada vontade de rever amigos queridos em Prudentópolis (PR), Santa Maria (RS), Pelotas (RS), Candiota (RS), Bagé (RS), Camaquã (RS) e São José (SC). A grande farra que seria rever os digníssimos parceiros da nossa Irmandade Sem Fronteiras em Dom Pedrito (RS).

No início do ano, certa quantidade de motociclistas conhecidos meus manifestaram interesse em ir ao 4º Cataratas Moto Fest, e a maioria queria viajar comigo para lá. Conhecedor que sou dessa bolha que infla e depois se esvai, me segurei nas de trás e fiquei só aguardando as desistências.

Em abril estava certo que o Carlão, sua esposa Cláudia e mais alguns integrantes do Poca Sombra M.C. de São Paulo iriam viajar comigo, além do Formigão, baita parceiro de grandes jornadas e integrante do Rota Alternativa M.C. da Ilha do Governador (RJ) e do nosso grupo supramotoclubístico A Certeza de Ser, o qual aguardava apenas a confirmação de adiamento de um procedimento médico, para juntar seus panos de bunda e partir comigo para os dois eventos motociclísticos citados.

Chegando o mês de maio do corrente ano o Carlão, sua esposa e os integrantes do seu moto clube abortaram a missão. Em compensação o Formigão, a Aninha e o casal Luizinho & Alzira bateram o martelo e disseram sim a esta viagem, ao menos em seu primeiro trecho, e o Formigão carimbou seu visto para o trajeto total de meu plano de voo inicial.

A propósito, Aninha é de Juiz de Fora (MG) e pertence aos grupos Independents Rider’s e A Certeza de Ser. Luizinho é do Rota Alternativa M.C. e também do A Certeza de Ser.

E finalmente ficou acertado que no dia 09 de maio Luizinho & Alzira sairiam da Ilha do Governador. Aninha sairia de Juiz de Fora e se encontraria com Luizinho & Alzira em Rezende (RJ). Formigão sairia da Ilha do Governador no dia 08 e seria recebido por mim em um posto de combustíveis em Arujá (SP), lugar esse que já se tornou nosso habitual ponto de encontro.

De minha parte, fiz revisão em minha moto que já não era mais minha, arrumei minhas tralhas e deixei tudo certo e não resolvido. No dia 07 de maio, tarde da noite, enquanto esperava inutilmente por um certo telefonema, fiquei em compasso de espera para a chegada do Formigão.

 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 08 de maio 2012
 
   
   
  O dia que me acordou estava bacana. Reconferi documentos, dólares, coisas de primeira necessidade e tralhas em geral. Logo depois Formigão me telefonou dando conta de que estava pegando estrada.

No horário combinado encostei a moto no posto e logo depois aportou o Formigão, que havia feito uma viagem tranquila e sem novidades. Almoçamos no restaurante do próprio posto e seguimos para as Bocas de Moto no centro da cidade de São Paulo.

Lá o Formigão assuntou o que precisava, visitamos amigos, demos um bordejo geral e fomos para meu bunker em Guarulhos (SP), onde o Formigão se instalou convenientemente, tirou o pó da estrada e relaxou. Bom que eu diga que se instalar convenientemente em minha casa é apenas pura força de expressão.

À noite, enquanto degustávamos queijos, salames e outras tranqueiras regados a Patagonia, rum Captain Morgan e outros líquidos que passarinho não bebe, com o auxílio luxuoso de um aperitivo de vinho de catuaba, fomos sabedores de que Aninha e Luizinho & Alzira sairiam mesmo no dia seguinte, pernoitariam perto da capital dos paranaenses e que estava tudo bem com eles.

Fomos dormir algo cedo para nossos padrões, principalmente para mim que de algum tempo para cá só durmo depois das 2:00 h da madrugada, a esperar pela possibilidade daquele certo telefonema que teima em não acontecer.

 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 09 de maio 2012
 
   
   
  Nosso toque de alvorada foi às 5:00 h, ainda noite pega e fria, com café da manhã light à base de frutas. Depois das barrigadas matinais nos pilchamos, descemos as escadas, conferimos o encilhamento das motos, nos desejamos boa estrada e saímos rumo a Prudentópolis (PR), onde aconteceria nosso primeiro pernoite.

Seguimos pela rodovia Presidente Dutra (BR-116), Av. Marginal Direita do rio Tietê em São Paulo e após parcos 20 minutos, posto que a hora do rush ainda não se havia iniciado, entramos na Rodovia Castello Branco (SP-280).

Paramos em Jandira (SP) para termos um reforço de café da manhã, pois ainda que este primeiro trecho de viagem se prenunciasse tranquilo, certamente teríamos desgaste físico.

Prosseguimos pela mesma rodovia até o trevo para Tatuí (SP), onde entramos à esquerda e pegamos a rodovia SP-127. Na altura de Itapetininga (SP) havia muita neblina rés do chão e no meio dela, num voo meio cego, entramos na rodovia SP-258.

Fizemos uma parada técnico-mijatória-alongante em Taquarivaí (SP) já sob céu de brigadeiro e com temperatura em ascensão. Nessaparada por pouco não fomos vítimas de pane seca, pois chegamos ao posto com os tanques das duas motos já utilizando a reserva havia algum tempo.

Após um breve descanso e hidratação, Formigão deu um tapa no tabaco e seguimos pela mesma rodovia até Itararé (SP), onde o rio de mesmo nome rasga a divisa de São Paulo com o Paraná. A partir desse ponto a identificação dessa estrada passa a ser PR-151. Por ela seguimos no mesmo rumo Sul na direção de Ponta Grossa (PR).

Paramos em Jaguariaíva (PR) especialmente para fotografarmos parte da generosidade da mamãe Natureza, e na ponte sobre a qual passamos a pé para fazermos as fotos, havia uma grande colmeia. Saímos de lá mascando e cuspindo abelhas, que foi uma forma inusitada e radical de ingerirmos mel.


Fizemos novo pit stop em Carambeí (PR) a apenas 80 km de Prudentópolis, pois minha bexiga estava a ponto de entrar em colapso. Afinalcada qual chora por onde tem saudade...

Prosseguimos descendo até Ponta Grossa, onde entramos à direita e seguimos pela rodovia BR-373 que nos levaria a Prudentópolis, e lá chegamos com tempo bom, muito bom.

Fomos festivamente recepcionados pelos amigos motociclistas locais Denilson e Adilson. Cabe aqui esclarecer que qualquer semelhança com nomes de duplas sertanejas será mera coincidência, pois eles desafinam até dando risada.


Fomos convidados para um jantar especialíssimo e para pernoitarmos em casa do Adilson. Aceitamos prontamente o convite para o rango, mas declinamos da possibilidade de dormirmos no Adilson para não tirarmos a privacidade e o sossego de sua família. Foi aí que a armação dos meus óculos usuais se quebrou e tive que lançar mão dos óculos de reserva.

Nos hospedamos no Mayná Palace Hotel, um tanto espartano e que de palace não tinha nada, mas era simpático, com acomodações bem razoáveis e chuveiro irretocável, perfeito. Tiramos o pó da estrada e um pouco do cansaço.

Às 20:00 h o Denilson veio nos buscar e nos levou à sua chácara, onde nos aguardavam muitos motociclistas machos e fêmeas. Fomos recepcionados condignamente com um jantar espetacularmente delicioso. Nos serviram o indefectível perohe, prato tradicional da culinária ucraniana, saladas, arroz, petiscos vários e um baita churrasco. A cereja desse bolo foi uma garrafa do legítimo rum Captain Morgan que o Denilson e a Márcia carinhosamente tinham ido buscar na Argentina só para nos mimar, pois ele havia lido em meu livro que nós somos apaixonados por esse rum, e que para apreciá-lo corretamente se faz necessária uma certa liturgia. Isso que é verdadeiramente carinho e consideração. Gracias, Denilson e Márcia.


Com esse pessoal animado e de bem com a vida conversamos muito sobre tudo e mais um pouco, e por volta da meia-noite fomos conduzidos pelo Adilson de volta ao hotel.


Depois de um cafezinho e da pitada sine qua non do Formigão, fomos dormir porque o dia seguinte seria de mais (muita) estrada.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 10 de maio 2012
 
   
   
  Acordamos calmamente tendo como despertador a benfazeja luz do sol. Após barrigadas competentes para descomermos o substrato do lauto jantar da noite anterior, tivemos nosso desjejum, encilhamos as motos e saímos do hotel rumo à região da Tríplice Fronteira pouco após às 9:00 h. Reentramos na mesma estrada que nos havia deixado em Prudentópolis e passamos a comer léguas.

Fizemos um pit stop mais demorado que o normal em Virmond (PR), e olhando para o nada danei a cismar acerca de meus erros e infortúnios. Concluí que errei muito pouco para ser punido tão severamente, e que o que cometi foi de boa fé na inútil (será ?) tentativa de ser feliz.

Prosseguimos com tempo muito bom e com um sol de cinema pela popa, já trafegando pela rodovia BR-277, e paramos em Céu Azul(PR) no Forlim, meu tradicional ponto de parada naquela região, e ali saboreamos a melhor salada de frutas com sorvete do Brasil, quiçá do planeta (não é, Carlão ?). Igual a essa, somente no Shopping del Sol em Asunción, Paraguay.

Como Formigão não estava com nenhuma fome, deglutiu “apenas” uma grande torta de palmitos e duas maxi saladas de frutas com sorvete de banana. Nisso ligou a Aninha nos dizendo que ela, o Luizinho e a Alzira estavam a 150 km antes de Cascavel (PR). Diante disso, resolvemos seguir viagem e aguardá-los em Foz do Iguaçú (PR). Ficou combinado que eles nos ligariam de Medianeira (PR) e nós os recepcionaríamos na entrada principal da cidade.

Chegamos a Foz do Iguaçú com um tempo dos deuses e temperatura de 28 graus. Fomos diretamente para o Hotel Suiça, do amigo motociclista Alejandro. Nos instalamos, Formigão deu uma sonora cochilada (só para variar), enviei alguns torpedos e passamos a aguardar a raça.

Como a noite atropelou o sol sem aviso, antes do horário combinado fomos para a rotatória de entrada da cidade, junto à rodovia BR-277, e ficamos num plantão visual no acostamento, posto que nessa altura já era noite, mais escura que apagão em estádio de futebol quando o time da casa está perdendo.

Esperamos cerca de 20 minutos e o povo chegou um tanto cansado. Após longos abraços, ali mesmo no acostamento escuro fizemos uma reunião de cúpula (não de cópula) e decidimos ir direto para a Argentina.

Já em Puerto Iguazú (AR), Luizinho & Alzira se instalaram no hotel em que haviam feito reserva e fomos para o QG da organização do 4º Cataratas Moto Fest. Lá fomos muito bem recebidos pelo Marcelo, pelo Alejandro e pela Agustina, Maitena e Alejo, respectivamente esposa, filha e filho do Alejandro.

Após fazermos nossas inscrições neste que é o maior evento motociclístico da República Argentina, e matarmos saudades dessa gente boa e hermana, ancoramos num bar bem simpático para baixarmos a adrenalina sob os auspícios de algumas Stella Artois geladinhas. E o Luizinho se aventurou a tomar Brahma argentina. O cabra deve ter fígado de aço.



Depois de algum tempo não mensurado, algo entre 15 minutos e 3:42 h, fomos para um bar-restaurante onde jantamos fartamentechorizo con papas fritas y ensalada, e spaghetti com tranqueiras, tudo regado a Quilmes. Muito bom.


A propósito, cabe aqui um adendo interessante: a Quilmes, diferentemente das outras cervejas, é fabricada a partir da fermentação do milho.

Como naquela altura da noite as sorveterias já se encontravam fechadas, Formigão fumaceou uns dois ou três bastões nicotínicos, e retornamos ao Brasil e ao Hotel Suiça.

Aninha se instalou finalmente e nos disse depois que lavou suas roupas até às 3:00 h da manhã. Formigão hibernou. Eu dei uma barrigada de good night ou de buona notte e me deitei com o pensamento longe, voando lá pras bandas das charqueadas.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 11 de maio 2012
 
   
   
  O dia amanheceu totalmente mau humorado, rancoroso, brigando com a vida, como se estivesse querendo lavar a maldade do mundo com suas lágrimas, pois chovia em profusão, uma pancada d’água profissional.

No café da manhã reencontramos o Everson, diretor do site Mototour, e o Geraldo, manager do Jornal Motocycle. Reacordamos a Aninha e ela, depois que teve seu café da manhã, foi com o Formigão ao Paraguay debaixo de chuva. Eu fiquei na retaguarda porque não me animei a ir, deixando para o dia seguinte, já que tempo era o que não me faltava.

Everson e Geraldo já haviam ido transpor a Ponte da Amizade, que une o Brasil ao Paraguay nessa região da Tríplice Fronteira. Como são gente fina foram a bordo de uma van, e o resto da plebe foi de busão urbano mesmo. Noblesse oblige.

Recebi a notícia de que o Capitão, diretor geral da Revista Demoto de Pato Branco (PR), já estava na área, porém não havia ainda dado as caras por nossa base operacional.

Fui para a beira da piscina municiado com algumas frutas e uma ampola de água mineral com bolinhas. Fiz algumas anotações, falei por telefone com Deusdará, que estava em seu lava rápido em Guanambi (BA), sob o patrocínio da mamãe TIM.

Daí “viajei” um pouco pensando nela... te extraño, mi rubia. Quizás mañana...

Então sentaram-se na mesa ao lado Palito Rios, Gordo e Marcelo, motociclistas argentinos de Buenos Aires. Liguei minha tecla SAP e garramos numa baita prosa regada a um verdadeiro mate argentino. A conversa estava tão boa que perdemos a noção do tempo e papeamos tarde adentro, e só suspendemos a tagarelice no idioma de Evita Perón quando os aventureiros da chuva retornaram das terras do bispo Lugo, mais encharcados que hóstia no vinho.

Depois que Formigão e Aninha se recompuseram minimamente, fomos todos para o evento no lado argentino, transpondo novamente a ponte internacional Presidente Tancredo Neves.

Depois de nos reencontrarmos com algumas figurinhas carimbadas do motociclismo sulamericano, cambiamos dólares e reais por pesos argentinos já com vistas à nossa breve incursão através das terras de San Martin, Maradona, Guevara e Cristina, que aconteceria no domingo subsequente.

Passeamos um pouco pela cidade, tomamos sorvetes, e na volta nos reencontramos finalmente com o Capitão, matando assim nossas saudades.



Em meio ao mar de motociclistas que circulavam pelo evento, o Alejandro me avisou que havia um canal de TV da Argentina que queria me entrevistar, pois o apresentador do programa já tinha ouvido falar de mim. Aguardei um pouco no QG da organização do evento, e logo depois chegaram o repórter e o câmera-man de uma cable TV de Buenos Aires. E rolou uma entrevista rápida e bacana, en español, evidentemente.

Sugeri ao repórter que entrevistasse também o Formigão e a Aninha, e participei também dessa matéria na condição de intérprete. Foi maneiro.

Depois fomos a um mercadinho onde compramos chocolates (muitos), batatas fritas, rum Captain Morgan (of course) e fernet Capri. Logo após nos reencontramos com o Adilson de Prudentópolis, com o Everson e com o Geraldo.

Luizinho, Alzira, Aninha, Formigão e eu nos reunimos e fomos jantar num rodízio de pizzas até que razoável. De sobremesa, sorvetes... muitos sorvetes.

Bem mais tarde nos reencontramos com Denilson e Márcia, que acabavam de adentrar ao recinto do evento, procedentes de Prudentópolis.

Por fim, como Aninha resolveu permanecer por mais tempo no evento, Formigão e eu retornamos ao hotel para cairmos nos braços já cansados de Morfeu. Nanamos quais duas crianças.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 12 de maio 2012
 
   
   
  Acordamos cedo e tomamos logo nosso café da manhã. Como o tempo tinha melhorado sobremaneira, Aninha resolveu ir ao passeio das motos às Cataratas argentinas. Formigão voltou a dormir, e eu fui solito hasta el Paraguay.

Quando retornei com algumas muambas de que eu precisava, acordei o Formigão, nos arrumamos calmamente e, quando já estávamos de saída para matarmos a fome, Aninha nos ligou da Argentina dizendo que ela, o Luizinho (o outro) e sua esposa iriam almoçar conosco na Churrascaria do Gaucho, no centro da cidade de Foz do Iguaçú.

Passamos num caixa eletrônico junto a um dos Supermercados Muffato, e quando já ligávamos as motos para seguirmos até a churrascaria, Aninha Luizinho (o outro) e sua esposa apontaram na curva. Se tivéssemos combinado não teria dado tão certo. E seguimos todos juntos para almoçarmos na tal churrascaria de que tínhamos ouvido falar muito bem.

Comemos maravilhosamente bem, inclusive com o requinte ímpar de cortes de coelho, faisão, javali e cordeiro. E para não deixar por menos, me fartei ao exagero provando das seis qualidades de sobremesas que havia. Es-pe-ta-cu-lar !

Retornamos ao hotel rapidamente para não sermos surpreendidos pela madorna que fatalmente viria como efeito colateral por tanta comida. Logo depois chegaram os pneus que Aninha e Formigão haviam comprado para suas motos no Paraguay, e eles aproveitaram a derradeira e inútil tentativa de a tarde ganhar sua briga com a noite, e foram trocar os pneus traseiros de suas motos.

Quando os dois retornaram do borracheiro, tratamos de nos pilchar para a última e promissora noite do 4º Cataratas Moto Fest.

A noite não estava nada fria e a grande quantidade de pessoas presentes aquecia ainda mais todo o evento.

Para abrirmos os trabalhos desse dia tomamos finalmente algumas Patagonia no Mercado Popular de Puerto Iguazú, chamado carinhosamente de feirinha. Para acompanhar, pedimos uma boa tábua de frios. Foi uma bem vinda fisioterapia aeróbica nos maxilares.

Para exercitarmos as pernas demos outro bordejo pelas ruas das cercanias, compramos cartões postais e erva mate argentina, que me agrada muito.

E fomos nos encontrando com a raça toda, ou seja, Alejandro, Agustina, Marcelo e Silvio da organização do evento; Geraldo, Everson, Cassola, Capitão, Luizinho (o outro) e esposa, Denilson e Márcia, e finalmente nos encontramos com o Bleiner e com o Elizeu (Lilica). E fomos todos juntos, ou quase, comemorarmos tomando Stella Artois e Quilmes. O evento estava por demais animado e totalmente lotado com muita gente simpática e bonita. A conversa mole e fiada foi até às tantas, e como eu precisava ainda arrumar toda minha bagagem, agora um pouco aumentada pela muamba paraguaya e pelas garrafas de Fernet argentino, tratei de voltar ao hotel perto da 1:00 h da madrugada.

A raça ficou ainda um bom tempo na muvuca do evento. Assim que o Formigão chegou de volta, tratamos de dormir porque o dia seguinte seria de estrada por dentro da Argentina.

Aqui cabe um esclarecimento para o bom entendimento do restante do texto: até onde nós sabíamos, após o Cataratas Moto Fest, Aninha retornaria para sua casa em Juiz de Fora por expirado que estaria seu alvará, e Formigão e eu seguiríamos Argentina adentro e desaguaríamos em Dom Pedrito (RS) para o evento que aconteceria no final de semana seguinte. Porém, Aninha resolveu enfiar o pé na jaca, ou melhor, mergulhou de cabeça na fruta, rodou a bahiana e gritou – “Não quero nem saber, estou dentro ! Vou junto com vocês !” E quem somos nós para contrariá-la ?
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 13 de maio 2012
 
   
   
  Este era o segundo domingo de maio, Dia das Mães no Brasil e no Paraguay. Parabéns, mamães ! Beijo do Marcão.

Era também o Dia da Independência no vizinho e Hermano Paraguay. Arriba, Paraguay !

“El nacimiento de un mundo se aplazó por un momento
un breve lapso del tiempo, del universo un segundo.
Sin embargo parecía que todo se iba a acabar
con la distancia mortal que separó nuestra vidas.

Realizaron la labor de desunir nuestras manos
y apesar de ser hermanos nos miramos con temor.
Cuando pasaron los años se acumularon rencores,
se olvidaron los amores, parecíamos extraños.

Qué distancia tan sufrida, que mundo tan separado
jamás hubiera encontrado sin aportar nuevas vidas.
Esclavo por una parte, servil criado por la otra,
es lo primero que nota el último en desatarse.

Explotando esta misión de verlo todo tan claro
un día se vio liberado por esta revolución.
Esto no fue un buen ejemplo para otros por liberar,
la nueva labor fue aislar bloqueando toda experiencia.

Lo que brilla con luz propia nadie lo puede apagar,
su brillo puede alcanzar la oscuridad de otras cosas.
Quién pagará este pesar del tiempo que se perdió.
de las vidas que costó, de las que puede costar.

Lo pagará la unidad de los pueblos en cuestión,
y al que niegue esta razón la historia condenará.
La historia lleva su carro y a muchos nos montará,
por encima pasará de aquel que quiera negarlo.”
(Pablo Milanés)
Y hoy, mientras nos miramos, entre nosotros no pasa nada más. Pueblos de Latino América, somos hechos de amores y de amistades. Somos hermanos, verdad ?

Este dia era também comemorativo da libertação dos escravos no Brasil, mas não dos escravos, como eu, do amor por uma princesinha gaucha linda, adorável, doce e muito, mas muito birrenta.

Acordamos bem cedo, encilhamos as motos, tomamos um ótimo café da manhã, emagrecemos um pouco com eficientes e providenciais barrigadas e ficamos um bom tempo nos despedindo dos motociclistas que, em pequenos bandos, estavam partindo.

Saímos por fim do hotel e fomos para a Argentina una vez más para nos despedirmos do Alejandro e do Marcelo e para agradecer-lhes pelo grande carinho e consideração com que fomos brindados, além de parabenizá-los pelo grande evento realizado.

Em Puerto Iguazú entramos na Ruta 12, bela e calma estrada que corta uma região madeireira de muita beleza. Em Puerto Esperanza (AR) fizemos uma parada técnica, mijatória e alongante, mais mijatória que técnica ou alongante.

No trevo de acesso para El Alcázar (AR) saímos da Ruta 12 e seguimos pela Ruta 9 no rumo de Dos de Mayo (AR) com um dia lindo, quase tão lindo quanto os olhos dela.

Em Dos de Mayo saímos da Ruta 9 e passamos a rodar pela Ruta 14. No caminho, pouco antes de Oberá (AR), paramos para fotografar um cemitério diferente, simples, sem muros e com um portal magnificamente florido.

Em Aristóbulo del Valle (AR) fizemos outra parada que se revelou diferenciada, pois danamos a prosear com habitantes do lugar, e como a Aninha quase não gosta de conversar, gastamos um tempo imenso ali naquela estación de servícios, tanto que o Formigão fumou uma meia dúzia de 4 ou 5 cigarros.



Esse pessoal simpático e afável nos recomendou entrar na cidade para apreciarmos a paisagem que se divisa de um mirador (mirante ou belvedere). Seguimos a sugestão e não nos arrependemos, pois além da bela paisagem que pudemos ver, a cidadezinha era também uma graça, com cara de que abriga gente feliz.



Saímos de Aristóbulo del Valle e prosseguimos para o Sul pela Ruta 14 até San Javier (AR), onde entramos e fomos diretamente para o porto fluvial às margens do rio Paraná, que naquele trecho desenha a fronteira entre a Argentina e o Brasil.

Fizemos nossas saídas regulares da Argentina e embarcamos com as motos na balsa que, após curta travessia, nos deixou em solo brasileiro, na localidade de Porto Xavier (RS).




Ainda a bordo da balsa recebi torpedo da Nanda me agradecendo pela cesta de café da manhã que eu lhe havia enviado pelo Dia das Mães. Eu estava apreensivo por não saber se ela iria ou não gostar, se ficaria feliz. E fiquei mais faceiro que guri de bombachas novas. Beijo, Nanda, te amo.

Já em terras tupiniquins seguimos para as Missões Gauchas passando por São Luiz Gonzaga (RS), e chegamos por fim a São Miguel das Missões (RS) após a entrada da boca da noite num percurso calmo e relaxante.


Nos hospedamos na Pousada das Missões, lindinha, muito aconchegante, com staff simpático e competente. Essa pousada já era minha velha conhecida e gosto muito de me hospedar lá. Há cerca de 1 ano Formigão e eu nos hospedamos ali.

Telefonei ao Quinhones, parceiro da Irmandade, dando-lhe conta de que chegaríamos a Santa Maria (RS), onde ele habita, no dia seguinte por volta da hora do almoço e ele se prontificou a nos aguardar para nos recepcionar.

Saímos para jantar no Restaurante Barum, e nos foi servido um ragu acima da média, com preços idem. Mas valeu a pena cada centavo, até porque o melhor tempero é a fome, e isso não nos faltava. Mas a comida estava bem boa mesmo.

Voltando à pousada, Formigão foi dormir e fiquei com Aninha conversando muito acerca de dores e amores. Enquanto Aninha foi ao seu quarto, fiz algumas anotações. Quando ela retornou tomamos um bom mate na companhia do simpático e querido Sr. Bráulio, guarda da pousada. Bem mais tarde fomos dormir. Efetivamente a Aninha é a irmã mais nova que a vida não me deu. Obrigado por me ouvir e por entender minhas lágrimas, Aninha.

Interessante registrar que no trecho desse dia, por conta de informações incompletas ou incompreendidas, e por desatenção de nossa (minha) parte, erramos o caminho umas 187,2 vezes. Por esse fato chegamos às ruínas de São Miguel Arcanjo com a noite já bombando, e como meus óculos reserva tinham lentes azuis, eu não enxergava quase porra nenhuma de noite.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 14 de maio 2012
 
   
   
  O dia lindo que nos despertou havia pendurado na janela da vida um sol desmesuradamente lindo, emoldurado por um céu dipinto da Michelangelo, e acordamos um pouco mais tarde que o usual até por conta do trecho reservado para esse dia, que não era longo.

Na manhã orvalhada e cheirosa fazia um friozinho gostoso que dava vontade de namorar, e com trilha sonora de canto de pássaros tomamos nosso café da manhã.

De volta aos nossos quartos nos pilchamos, reencilhamos as motos, lubrifiquei as correntes das transmissões secundárias das motos minha e da Aninha, e calmamente como sugeria aquele lugar de paz saímos da pousada buscando um posto para reabastecimento das motos, enquanto que o sol nos propiciava uma linda manhã com milhões de pequenas luzes formadas pela incidência dos seus raios nas florezinhas plenas de gotas de orvalho, quais ínfimos vagalumes tardios. Pura poesia.



Saímos do posto e pegamos estrada. Prosseguimos numa viagem tranquila, apenas sacudida por uma interrupção na faixa de rolamento causada por um grave acidente com vítimas na BR-158, na altura de Julio de Castilhos (RS). Os bombeiros estavam lavando o leito carroçável da estrada, que estava impregnado de óleo diesel e de gasolina.


Ao chegarmos a Santa Maria paramos num posto de combustíveis e inevitavelmente pensei nela, acordando do meu torpor apenas quando o Quinhones me telefonou e, ato contínuo, veio ao nosso encontro.

Após abraços fortes de quem vem de longe e das apresentações, Quinhones nos levou para sua casa e passou a nos servir um churrascão delicioso e loco de especial. Tudo estava muito saboroso, desde o salsichão, passando pela maminha e costela, e terminando na salada, na farinha e até no cacetinho. De se ressaltar o feijão que estava incrivelmente delicioso e com sabor de carinho e de quero mais. E tudo isso regado a cachaça da boa, vinho, cerveja e ao autêntico rum Captain Morgan, logicamente.




Que baita anfitrião é o Quinhones ! Não que nossos outros parceiros não o sejam, mas ele se esmerou muito em nos servir da melhor forma, nos deixou completamente à vontade e se preocupou com cada detalhe para nosso bem estar.

No final da tarde chegou a Maria, esposa e fiel escudeira do Quinhones, e à noite ambos nos prepararam e nos serviram um arroz de carreteiro com salada. Coisa bem boa.

Daí, ficamos falando (novamente) mal dos ausentes para baixar o bolo alimentar, e bota bolo nisso. Talvez por ter comido demais e certamente por meus pensamentos estarem na região da fronteira sul por lembrar do meu outubro de 2011 em Santa Maria, e a tristeza decorrente disso, me deu um estranho piripaque, mas depois de me deitar um pouco melhorei totalmente e fiquei novo de novo, ou quase. Pura emoção.

Então Quinhones e Maria nos conduziram ao Hotel Paraíso, onde o Cleber, grande amigo e parceiro motociclista de Santa Maria, nos havia gentilmente feito reservas.




No átrio do hotel agradecemos muito ao Quinhones e à Maria pela carinhosa recepção e hospitalidade, e prometemos nos encontrar no final de semana subsequente em Dom Pedrito. Nos instalamos rapidamente e fomos dormir, pois o dia havia sido repleto de sensações, além do que sairíamos cedo para Pelotas (RS) no dia vindouro.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 15 de maio 2012
 
   
   
  O dia claro e límpido amanheceu frio, bem frio. Logo após nosso café da manhã a cidade foi envolta por uma densa e úmida névoa que fez baixar ainda mais a temperatura, e pegamos estrada em meio a essa bruma típica dos filmes noir. Era como se todos os magrinhos malucos locais tivessem tido vontade de queimar seus cigarrinhos do demônio ao mesmo tempo. Imagino o tamanho da larica que sobreviria...

Os primeiros kilômetros desse dia foram um tanto difíceis e algo perigosos, mas pouco depois a neblina se estratificou e subiu, dando lugar a um sol quase tão lindo como o sorriso dela. Mas o frio intenso permanecia... tão frio quanto o desprezo e a indiferença dela para comigo.

A viagem transcorria por demais tranquila, agradável e calma. Fizemos uma parada boa em Canguçú (RS) para reabastecimento, mijadinhas e principalmente para que eu telefonasse ao Henrique e ao Ademir para posicioná-los quanto ao tempo que ainda demoraríamos para chegar, pois os mesmos haviam ficado de nos esperar no entroncamento entre as rodovias BR-158 e BR-293, perto da Cascata (lembras, Nanda ?) já em terras pelotenses.

Prosseguimos então, e já na BR-293 avistamos o Henrique, sua filha Bia e o Ademir nos aguardando no acostamento do lado esquerdo, numa parada de ônibus. Nosso encontro foi uma festa, e após abraços, beijos e um breve bate-papo, fomos levados ao Hotel do Cacalo, grande parceiro, bem no centro de Pelotas.



Antes mesmo de nos instalarmos no hotel, vestimos roupas leves e fomos almoçar capitaneados pelo Ademir, no Restaurante Alles Blau. Bom, mas muito bom mesmo. Depois fomos a bancos, farmácia e correio.

Daí voltamos ao hotel para então nos instalarmos de fato, tirarmos o pó da estrada e relaxarmos um pouco, ainda que eu estivesse tenso pela carga afetivo-emocional que Pelotas e uma sua certa habitante me trazem.

Aninha ficou dando um bordejo pelo calçadão, e na certa voltaria com alguma sacola, posto que os preços das vestimentas em Pelotas são muito convidativos.

No final da tarde Formigão foi ao barbeiro e Aninha e eu fomos com o Ademir à oficina do Maurício, na Cohab Tablada. A Ana foi tentar solucionar alguns pequenos problemas de sua moto e eu, idiota que sou, fui equivocadamente tentar resolver, ou encaminhar de uma vez minha questão afetiva de altíssimo grau com a mulher que amo.




Aninha, depois de longa conversa com o Maurício, marcou o conserto de sua moto para a manhã do dia seguinte, enquanto que uma moça linda, tão linda quanto assustada, de cabelos de raios de sol e olhos cor do mar, correndo montou no lombo de garupa de uma pequena moto e sumiu na noite fugindo com medo talvez de entregar o ouro com a possível reação que teria ao me mirar nos olhos plenos de amor e de verdade, temendo enfrentar seus próprios fantasmas criados por alguns erros, equívocos e atitudes conflitantes, algo permissivas e que não são características dela. E fugindo de mim não se deu conta de que fugia de si mesma, pois ela mora dentro de mim, eu a respiro, ela é a minha própria vida. E assim tão distante ela perde tanta vida e deixa de aproveitar tanta coisa boa...

"Mia,
aunque tú vayas por outro camino
aunque jamás nos ayude el destino,
nunca te olvides sigues siendo mía.

"Mia,
aunque tú vayas por otro camino
aunque jamás nos ayude el destino,
nunca te olvides sigues siendo mía.
”Mía,
aunque tú vayas por otro camino
aunque jamás nos ayude el destino,
nunca te olvides sigues siendo mía.
Mía,
aunque con otro contemples la noche
y de alegría hagas un derroche,
nunca te olvides sigues siendo mía
Mía,
porque jamás dejarás de nombrarme
y cuando duermas, habrás de soñarme
hasta tú misma dirás que eres mía.
Mía,
aunque te liguen mañana otros lazos,
no habrá quién sepa llorar en tus brazos,
nunca te olvides sigues siendo mía.
Sí, siempre mia”
(Armando Manzanero)
Voltamos para o hotel já à noitinha, e pouco mais tarde fizemos uma roda de chimarrão composta por Cacalo, Ademir, Aninha, Formigão e eu. Apesar de eu estar me sentindo sem alma naquela altura, foi muito bom e providencial estar na boa companhia de amigos sinceros e de fé. E o chimarrão aquecia meu vazio interior.




Depois fomos ao Picanha Express. Formigão e Aninha jantaram bons pratos e eu, por motivos óbvios, não estava com a menor fome, e tomei apenas o vinho da casa que nos tinha sido servido. Meu pensamento em alvoroço voava longe e sem rumo, e eu não conseguia me situar, não fixava meu pensar em nada. Me sentia morrendo aos poucos como se meu bem-querer se esvaísse ou escorresse pelos vãos dos dedos de minhas mãos calejadas pelas manoplas e manetes da moto, sem hipótese de poder retê-lo.

Voltamos para o hotel. Formigão, como sempre, foi dormir. Aninha e eu ficamos por bom tempo conversando e tomando rum na tampinha da garrafa. Conversa longa e profunda, de tentar espantar fantasmas e demônios, de tirar lágrimas (muitas) de meus olhos.

Na madrugada, Aninha por muito cansada e com sono que estava, foi dormir. Eu fui para meu quarto, voltei para a garagem, zanzei por todo lado mas não me achei. Por fim, extenuado, dormi ou desmaiei. Ah, princesinha...

 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 16 de maio 2012
 
   
   
  Acordamos bem e sem muita pressa, tomamos café numa padaria e, de minha parte, tomei-o apenas por impulso ou por força do hábito. Como o tempo estava muito bom dispensei o uso de uma blusa de fleece e partimos para a lida do dia. Formigão foi à concessionária Suzuki local fazer a revisão de sua Boulevard 800. Aninha e eu voltamos à oficina do Maurício para que sua BMW F 650 GS fosse convenientemente reparada.

Chegando à Tablada a moto da Aninha foi detidamente examinada outra vez, e fomos os dois em minha moto comprar óleo de motor e lâmpada do farol principal para substituição em sua moto, na Paulinho Motos.




Enquanto que o Maurício e seus mecânicos trabalhavam na moto da Aninha, ficamos eu e ela conversando sobre cousas e lousas até que chegaram Ademir e Formigão para nos pegarem para irmos almoçar num restaurante simples que serve comida caseira na BR-293 em Morro Redondo (RS).

Combinamos então com o Maurício que no retorno do almoço voltaríamos para pegar a moto da mineirinha arretada e porreta.

No restaurante já nos aguardavam o Henrique, sua filha Bia, além de mais alguns motociclistas de Pelotas e de Rio Grande. Depois chegaram o Dindo, o Carlão e a Izabel.



Quero registrar aqui uma menção especial ao Cláudio Velho, da nossa Irmandade Sem Fronteiras, que mesmo ocupado e sem tempo disponível esteve no restaurante especialmente para nos dar as boas vindas e nos abraçar calorosamente. Gracias, Cláudio.

Foi um rico almoço. Comidinha caseira, cheirosa, saborosa e preparada com carinho e amor. Bem do jeito que a Nanda gosta, ainda maisem Morro Redondo... quantas lembranças boas que me tocam fundo. E voltei a lembrar de todas as coisas de que eu nunca me esqueci.

Nesse restaurante fomos servidos com cortesia, educação, simpatia, simplicidade e carinho. Melhor seria impossível.



Depois desse inesquecível almoço ficamos conversando ali por um bom tempo, e depois voltamos à oficina do Maurício, Aninha pegou sua moto e voltamos ao hotel.

Na moto da Aninha foram trocados o óleo de motor e lâmpada do farol principal, consertado o pisca traseiro direito, regulada a marcha lenta do motor e a corrente de transmissão, limpo o filtro de ar, arrumado o descanso lateral e feito reaperto geral. Por tudo isso foram cobrados inacreditáveis R$ 40,00. Pasmem ! Maurício, tu és louco, tchê !

Durante o almoço fizemos uma rápida brain storm e decidimos alterar bastante o plano de voo inicial, evitando assim um retorno a Pelotas (que eu pensava antes que seria maravilhoso, com almoço no Uruguay com a Nanda) após o evento de Dom Pedrito. Naquela altura dos acontecimentos achei melhor passar ao largo da querida Pelotas em nosso retorno.

Decidimos que teríamos nosso almoço no Uruguay de qualquer jeito, comeríamos chivitos com a Nanda ou sem ela, afinal nós merecíamos e quem perderia, como de fato perdeu, foi a Nanda. E também a solidão, o desprezo e a indiferença com que ela me presenteou, eu os transformei em flores para minimizar a tristeza.

Desceríamos até Jaguarão (RS), entraríamos no Uruguay por Rio Branco, iríamos até Melo (Uy) e sairíamos por Aceguá (Uy/RS), indo desaguar no churras da Confraria do Silvério em Bagé (RS) na sexta-feira subsequente.

O Henrique nos convidou para jantarmos em sua casa na companhia de sua querida família, o que aceitamos de pronto.

No final da tarde fomos para o calçadão do centro de Pelotas para que Aninha trocasse uma jaqueta que havia comprado para seu filho Jean, e acabei por comprar também uma boa jaqueta para mim, muito chique e quentinha, já que desde o final do ano passado eu não tinha mais cobertor de orelha.


Tomamos um espetacular moccacino e fomos a uma agência dos Correios para que Aninha despachasse algumas peças de roupa para sua casa, aliviando assim a carga e o volume de sua bagagem.

Voltamos ao hotel para começarmos a arrumar nossas tralhas, pois o dia seguinte seria de estrada rumo às terras de Artigas.



Pouco depois das 19:00 h fomos para a casa do Henrique com a finalidade de jantarmos com sua família, e fomos recebidos pelo chefe da casa, por sua esposa Dona Francisca, pelos seus filhos, Bia, Beto e Bianca, pelo seu genro e pela sua netinha Alice, um docinho de coco, linda. Me deu muita vontade de morder suas bochechinhas rosadas.

Conversamos sobre tudo e todos. Jantamos muito bem e nos esbaldamos com um strogonoff de carne de gado especialíssimo, regado a um correto Maipo chileno escolhido com cuidado pelo Beto, meu sommelier preferido. Depois vieram a sobremesa e o cafezinho. Foram verdadeiras delícias que ficaram melhores ainda na companhia sempre agradável da família do Henrique.

Por volta das 22:00 h fomos reconduzidos ao Hotel do Cacalo pela Bia, e dormimos muito cedo para nossos padrões viajores.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 17 de maio 2012
 
   
   
  Acordamos bem e espertos. Arrumamos nossas bagagens, pagamos e agradecemos muito ao Cacalo por tudo e fomos ter nosso desjejum. O dia estava bem bom, com temperatura algo amena, céu de brigadeiro e sol maravilhoso, como aliás vinham sendo todos os dias dessa nossa viagem. Nesse quesito estávamos sendo muito privilegiados.

Quando já estávamos de saída o Henrique nos telefonou dizendo que o Diário Popular, um dos jornais da cidade, queria nos entrevistar. Aceitamos de pronto, e o Ademir, sempre o Ademir, nos levou para a redação do jornal.


Depois das entrevistas, que me pareceram fracas, e das fotos, nos despedimos emocionadamente do Henrique e do Ademir, nos encaminhamos para a estrada e paramos num posto de combustíveis na vizinha Capão do Leão (RS). Ainda na porta da redação do jornal, nos foi explicado que não havia muito espaço disponível para a matéria, portanto seria feita apenas uma menção de que nós, por termos importância no cenário motociclístico sulamericano segundo eles, estávamos de passagem por Pelotas. Valeu o registro.

Com as motos reabastecidas seguimos pela rodovia BR-116 para Jaguarão e para a fronteira com a Republica Oriental del Uruguay, num trecho da pampa gaucha que sabidamente me custariam lembranças... muitas lembranças, sonhos desfeitos, a visão dela (sempre) e lágrimas dentro do capacete cor de rosa em homenagem a ela. Eu seguia sem alma, sem coração e sem quereres, pois eu os havia deixado na, agora não mais minha, cidade de Pelotas.

Aos poucos fui sendo invadido por um turbilhão de doces e suaves lembranças de um par de olhos de um azul indizível, de beleza inimaginável como o amor, mergulhados num temporal amazônico que nos molhava até os ossos, enquanto que eu, explodindo de bem estar e de alegria, ouvia a 3 cm de meu capacete um largo e delicioso riso de plena felicidade. Ah, Nanda... será que tu não te dás conta do quanto ainda temos para desfrutarmos e para sermos felizes ? E saibas, bruxinha, que teu riso é a música mais linda que eu já ouvi na vida.

Até Jaguarão a viagem foi tranquila e sem intercorrências dignas de citação, cortando paragens calmas com arroios, sangas e coxinhas esporádicas numa vastidão desolada.

Chegamos na fronteira dentro do tempo previsto, às 12:00 h. Paramos num posto na cabeceira da Ponte Internacional Rio Branco, edificada sobre o rio Jaguarão que desenha a linha de fronteira com o vizinho Uruguay, tiramos fotos e Aninha foi a uma farmácia buscar remédio para cólicas. Ela estava colicada.



Por fim, fizemos a travessia da histórica ponte, cuja construção se deu por pagamento pelo Uruguay por uma dívida de guerra contraída com o Brasil por tê-lo defendido de uma tentativa de invasão do então Reino do Prata, atual Argentina.




Estávamos entrando na Banda Oriental, ou Província Cisplatina. Fomos diretamente para a Parrillada Tacuari onde sentamos na mesma mesa (aquela mesa de canto, Nanda. Lembras ?) e comemos de entrada salsa de chimichurry y queso caliente con pan y mantequilla. Como prato principal saboreamos chivitos regados a Zillertal e a Patricia.


Em Rio Branco, especialmente nesse pequeno e agradável restaurante, para mim os chivitos têm um tempero especialíssimo de ternura, carinho, riso, cumplicidade, de olhares apaixonados e sinceros, plenos de felicidade e de amor, ainda que agora a sobremesa tenha um gosto bem amargo.

Descansamos um pouco, posto que havíamos comido muito bem, e fomos fotografar a famosa ponte da beira do rio nas margens uruguayas, e dar um bordejo pelos free shoppings daquela Zona Franca.


Aninha comprou garrafas do legítimo rum Captain Morgan cinta roja, todos compramos chocolates e alfajores negros, e eu comprei uma jarra elétrica para substituir uma outra que eu havia comprado há menos de 1 ano com a Nanda, e que se extraviou num pesado e triste entrevero que, pouco depois, custou minha felicidade e ocasionou o início de minha derrocada sentimental, afetiva e emocional.


Daí seguimos pelo início da Ruta 26, reabastecemos as motos, fizemos nossa entradas regulares em la tierra del Peñarol e rumamos para Melo.

Sempre que atravesso a pampa uruguaya adentra em meu ser uma paz e uma calma espiritual indescritíveis, e nessa região totalmente tranquila meus sonhos já descoloridos, minh’alma, meu pensamento, meu querer gasto, meu amor equivocado, minha dor, minha tristeza e minha saudade voam leves por entre as coxinhas e, por puros que são, pousam esperançosos num certo lugar próximo ao Canal São Gonçalo, à Represa Santa Bárbara e não tão distante do Laranjal.

E quando a tarde já não escondia seus estertores, pouco antes de o sol travar sua luta diária com a lua, la pampa uruguaya se revestia de tons, cores e luzes quiméricas, como se fora um sonho louco ou uma trip psicodélica.

Com esse cenário digno de um afresco de Giotto di Bondone, chegamos a Melo. Paramos num almacén, tomamos jugo de pomelo e nos informamos sobre a direção da casa do Turco, amigo-irmão do Ademir.

Quando lá chegamos ele já nos aguardava um tanto agoniado em virtude de termos feito um demorado pit stop de cerca de 4 horas em Rio Branco. Ato contínuo, o Turco levou o Formigão e a Aninha para tentarem em vão comprar capacetes.

Quando voltaram conversamos um pouco e fomos levados pelo Turco ao centro da cidade para procurarmos hotel. Nessa hora Aninha se deu conta de que havia perdido um parafuso da articulação de seu capacete.

Terminamos por nos hospedar no Hotel Virrey Pedro de Melo, bom para os padrões da cidade, pero sin embargo uma mierda,considerando seu custo-benefício. Mas era o que tínhamos para esse dia.

Nos instalamos, tiramos o pouco pó da estrada e o turco veio nos buscar para jantarmos, mas primeiramente baixamos a adrenalina com umas quantas Patricia geladas.


Depois o Turco e sua namorada Grisel nos levaram para jantar no ótimo La Rueda, uma parrillera minha velha conhecida e onde comi muito bem em todas as vezes em que lá estive.


O Turco pediu tripas rellenas, Aninha pescado asado con papas al horno, Formigão una milanesa de la casa, e eu raviolis de vegetales y de carne de vacuno. Tudo isso muito bem regado a cervejas. Grisel não quis jantar.


Quando chegou o prato do Formigão, distraidamente pensei que haviam colocado diante dele uma lajota colonial ou um tijolo baiano de 20, pois o tal rango era descomunalmente grande. E bota grande nisso. Tratava-se de um bife à milanesa de uns 350 gramas coberto com presunto, queijo, ovos, salada, maionese, batata palha, bacon e outras tranqueiras mais. E acompanhavam ainda batatas fritas. Era tanta coisa junta que deveria ser servido com manual de instruções. Foi uma luta inglória, o Formigão só conseguiu dar conta de meia lajota. Rango 1 X Formigão 0.




Depois pedimos sobremesas de salada de frutas com sorvete e torta de chocolate. Para arrematar, um cafezinho meia-boca.

Por fim nos despedimos do Turco e da Grisel agradecendo-lhes muito pela carinhosa acolhida, e retornamos ao hotel. Fomos dormir depois da meia-noite, quando minha carruagem já tinha virado abóbora. Na verdade minha carruagem virara abóbora já desde o final do ano passado, isso se efetivamente algum dia eu estive realmente a bordo dessa carruagem de sonho.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 18 de maio
 
   
   
  Outro dia lindo. Acordamos com a luz do sol e com muita preguiça.

Tomamos um café da manhã algo decepcionante, arrumamos nossas bagagens, fechamos a conta do hotel e saímos em direção da Ruta 8, que nos levaria a Aceguá, na fronteira norte do Uruguay.

Contornamos o estádio municipal e nos embrenhamos novamente na pampa uruguaya, que em muitas oportunidades, como agora, sua planura pincelada em vários matizes de verde com coxilhas distribuídas cuidadosamente pela mamãe Natureza e entremeada por arroios e sangas com eventuais capões, alegoricamente me parece assemelhar-se a um plástico bolha desmesuradamente grande.

Passamos por Isidoro Noblía (Uy) e seguimos numa viagem calma que novamente, ainda que por pouco tempo, me emprestou um pouco de paz interior.

Já em Aceguá paramos no posto da aduana uruguaya, fizemos nossas saídas regulares do país, tiramos fotos e Aninha foi comprar algumas coisas para levar de lembrança para amigos. Eu aproveitei então para tomar um chá-de-rolha preventivo, pois minhas entranhas prenunciavam possíveis desacomodações deletérias.


Daí reentramos no Brasil, este país infeliz, e seguimos céleres para Bagé, onde nos encontraríamos com a raça da Irmandade Sem Fronteiras, e seguiríamos todos depois para a Confraria do Silvério, grande parceiro.

Entramos em Bagé, e numa de suas muitas praças perguntei a um motorista, que certamente não deveria ter mãe, onde ficava a praça que abriga o Monumento aos Motociclistas, e ele “muito solícito” nos mandou para o outro lado da cidade. Uma nova informação nos levou à praça certa onde já nos aguardavam alguns dos manos da ISF, tais como o Canibal, o Claudião e esposa, Romácio, Mito, Alejandro e esposa, e outros mais.



Descansamos, proseamos muito e depois o Claudião gentilmente nos levou à casa do Silvério, onde funciona a Confraria, e fomos recebidos da forma mais carinhosa possível, como sempre.

Lá ficamos totalmente à vontade. Tomamos providências de ordem prática, lavamos algumas peças de roupa e alguns apetrechos que estavam acondicionados no top case da moto do Formigão, pois uma beberagem da região Nordeste do país que o Quinhones lhe havia dado, abriu-se e melecou muita coisa.



Depois relaxamos muito bem ao som de músicas legais, paguei uma fatura pela Internet, conversamos fiado, contamos causos, falamos mentiras (muitas). E tudo isso após nos livrarmos das pesadas roupas de viagem.

Daí Formigão foi ao mercado comprar rum nacional para tomarmos cuba-libre mais tarde, bem mais tarde. Enquanto isso recebi torpedo do Ademir e liguei de volta a ele. Liguei também ao Picaxú, de Camaquã (RS).

Em Bagé o povo não deve gostar de rum, pois o Formigão foi a dois supermercados grandes e não encontrou nem mesmo uma dose de rum, nem que fosse para remédio.

Para matarmos nossa fome de muitos kilômetros pedimos a um delivery três sandwiches, e quando chegaram pensamos que fossem pizzas, pois mais parecias rodas de lambretta. Foi difícil darmos conta dos maxi-sandubas, e os cães do Silvério fizeram uma boquinha bem boa com o que restou.

Num dado momento começaram a chegar os manos da ISF, além de outros motociclistas, e a coisa foi melhorando ainda mais. Chegaram a Cê, o Ari Eduardo, a Priscila, o Lasareno, o Pedra Lascada, o Quinhones, o Romácio, o Claudião, e outros. Foi chegando tanta gente que eu não me atreveria a tentar citar aqui todos os nomes, pois certamente me esqueceria de muitos. Sorry, dears.






Anoiteceu em Bagé e também dentro de mim, mas não deixei a peteca cair e segurei a onda, porque infelicidade cansa. E tratei de comer, de beber, de conversar muito, de matar saudades dos amigos novos e antigos. Tratei de me divertir, até porque tenho total consciência da qualidade do meu amor e da minha dedicação plena à ela, e sei do meu valor como homem.


Foi interessante e curioso quando o Lasareno, vendo minha nova tatuagem, arregalou os olhos e sentenciou: - “Tu és o cara mais verdadeiro que existe ! E corajoso também.”

Como Formigão, Aninha e eu há muito tínhamos decidido que nessa noite dormiríamos em Dom Pedrito, o Lasareno, que não pode ver defunto sem chorar, resolveu ir embora conosco.



E rolava um baita churrascão. Festa muito animada com gente amiga, querida e alegre. Nessa noite a Confraria do Silvério bombou mesmo. Estava muito, muito bom mesmo.


Por volta das 22:00 h nos pilchamos, recolhemos nossas roupas já secas, nos despedimos dos anfitriões e do povo, e às 22:30 h, junto com o Lasareno, nosso 4º mosqueteiro, pegamos estrada para Dom Pedrito.

Noite clara, viagem breve e segura. Às 23:30 h já estávamos sendo recepcionados pelo pessoal da organização do 4º Festival de Motociclistas do município de Dom Pedrito, no recinto do evento, na Praça General Osório, conhecida carinhosamente como a Praça da Caixa D’água. Ali nos reencontramos com muita gente boa e me emocionou sobremaneira reencontrar o Véio Piti e sua esposa Deise.

Acabamos por fechar o evento nessa primeira noite, pois saímos da praça para o hotel às 2:00 h da madrugada fria.

Nos dirigimos ao Gilton Hotel onde havíamos feito reservas, e o Lasareno também conseguiu vaga ali para essa noite, e depois veríamos o que fazer. O hotel era francamente meia-boca, mas até aceitável diante das possibilidades daquele momento, do que se nos apresentava àquela altura.

Desencilhamos as motos, fizemos o check-in, nos instalamos mal e porcamente devidos ao cansaço e ao adiantado da hora, e fomos nanar de forma gostosa.

O município de Dom Pedrito nasceu às margens do rio Santa Maria quando ali se estabeleceu, por volta de 1700, o comerciante espanhol de Biscaia, Pedro Ansuateguy, apelidado de Dom Pedrito. A cidade é cognominada Capital da Paz em virtude de ter sido a sede das tratativas entre Farroupilhas e Forças Imperiais para a pacificação do Rio Grande do Sul. Suas terras férteis garantem a extensa cultura de arroz. É pioneira no cultivo da soja na América Latina, iniciado em 1900. Sua pecuária apresenta alta qualidade genética. Sua terra produz maçãs, azeitonas e suas uvas da região da Campanha dão origem a vinhos nobres. Dom Pedrito tem 140 anos.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 19 de maio 2012
 
   
   
  Para quem foi dormir muito tarde até que acordamos cedo, e às 9:00 h tomamos café todos juntos: Lasareno, Aninha, Formigão, Véio Piti, Deise, eu e dois casais de motociclistas de Santa Maria. Logo após nosso desjejum Aninha sentiu e ouviu uma ligeira trovoada oriunda das profundezas de suas entranhas, como se fossem vozes guturais emanadas das catacumbas sombrias de algum cemitério medieval daNorwegian Forest. Imediatamente voltou correndo ao seu quarto e se dirigiu à casinha. O prédio do combalido hotel começou a tremer, e copos e louças do café da manhã barulharam sobre as mesas. Soubemos posteriormente que Aninha, tão pequeninha que é, por ser esotérica, exorcizou um corpo estranho, descomeu um ser disforme, e como se fora um pastor santificado pariu um ser alienígena deletério gritando: - “Sai que este corpo não te pertence !” Aninha ficou 5,4 kg mais leve e aliviada, e neste caso cantou prá descer. (trecho de meu livro inédito “O Tratado da Bosta”).

Depois de tal entrevero intestinal, fomos para o recinto do evento. Enquanto perambulávamos pela praça e por seu entorno fomos reencontrando e conhecendo motociclistas vários.




Fomos visitar a magnífica caixa d’água da cidade, ciceroneados por uma simpática e solícita funcionária da municipalidade. Para fazer boas fotos aventurei-me a subir solito no topo da tal atração turística do lugar e de lá a vista foi realmente compensadora. Por um momento pensei até ter avistado as Grandes Muralhas da China, a Estátua da Liberdade e o chafariz do calçadão de Pelotas. Ou seria o rum ? E de lá de baixo da praça o Romácio e o Quinhones me fotografaram no topo. Valeu muito a pena.






















Aninha foi ao caixa automático do seu banco. Eu me sentei num dos bancos da praça e fiquei cismando e pensando sem ter elementos que me possibilitassem qualquer conclusão, ainda que houvessem hipóteses bem aceitáveis e coerentes. Uma lágrima furtiva foi inevitável. Ainda que eu sofra, não finjo jamais.





E fomos almoçar no Cumbuca, um restaurante algo requintado, com pratos bem variados e com ótimo sabor. Ingerimos saladas, massas, pescados e frutos do mar. Loco de especial. Para arrematar esse grude chique que amainou nossa fome de vikings, fui tomar um sorvetão na praça.

Durante o almoço enviei alguns torpedos e recebi mensagens da Thaís, da Mayuí (minhas filhas) e da Nanda. Recebi também telefonema do Picaxú me dando conta de que nos estaria esperando em Camaquã, posto que não poderia chegar a Dom Pedrito por estar de ressaca. Tu pensas que só revolver, buchada de bode azeda, sogra injuriada, mulher braba e governo do PT que matam, Picaxú ? Te cuida, veio.

Depois, na praça, fiquei bem faceiro ao reencontrar o Osmar e o Castrinho, velhos amigos motociclistas queridos de Pelotas. Enquanto isso o pessoal da Irmandade iniciava num canto da praça um competente churrasco de confraternização.



Mais tarde deixamos o Formigão sapeando no meio do povo e do evento e voltamos para o hotel. Aninha e Lasareno foram descansar, e eu fui fazer anotações, ajeitar a barba e me aprontar para a noite, que prometia ser mais que muito boa.

Por volta da hora da Ave-Maria Aninha, Lasareno e eu retornamos à praça onde rolava a efeméride motociclística. Comprei camisetas do evento e ingresso para o jantar de confraternização que aconteceria mais tarde no galpão do CTG Herança Paternal.

Para quem não sabe, CTG significa Centro de Tradições Gauchas, local onde se cultua, se pratica e se propaga a forte tradição pampiana. E aproveito para dizer que Piquete é uma agremiação tradicionalista gaucha aspirante a CTG.

Nisso, Formigão e Véio Piti conseguiram subir ao pavimento intermediário da caixa d’água e de lá tiraram fotos noturnas do evento e da cidade. Chique isso.




Senti a falta do Schutz e do Wagner em Dom Pedrito, e isso me entristeceu, principalmente porque os dois foram minhas companhias mais constantes durante todo o 1º Abraçando o Uruguay. Me entristeceu também não ter reencontrado a Fabrícia, querida e sensível amiga, na terra em que reside, muito embora todos nós da Irmandade já soubéssemos que ela não estaria presente ao evento, posto que ela mesma havia postado essa notícia no fórum do grupo. Mas tive oportunidade de conhecer seu filho, um belo rapagão simpático, afável, educado e querido.

Então fui com o Lasareno a um mercadinho de nome esquisito comprar um bom chileno Concha y Toro cabernet sauvignon reserva especial para, como doublés de sommelier chinelos, degustarmos mais tarde. Compramos até taças de cristal CICA.

Fomos para o jantar no CTG, que estava excelente, com comida campeira, fogo de chão, autênticos gaúchos da campanha pilchados a caráter e um grupo que tocava músicas gauchescas mandando bala em vanerões, xotes, chulas e o cacete. Aproveitando o ensejo, Aninha dançou com Lasareno e como quando não se tem tu vai tu mesmo, dancei um pouco com a esposa do gaiteiro do grupo. Ah, Nanda... como tu terias gostado de tudo isso... e eu teria dançado contigo.












“Quando ero felice accanto a te
Il sole che splendeva daí tuoi occhi
Caldava e pienava tutta l’anima mia
La verità e l’amore che usciva dalla tua bocca
Érano per me la confermazione della esistenza di Dio.
Da quando tu hai buttato via l’amore che ti ho dato
Il fiume d’acqua azzurra che scorreva dentro di me
In un’attimo hà fermato, in un’attimo hà sparito
E la vita mia è diventata veramente vuota
E non mi sono più riuscito a sorridere un’altra volta
Se tu non ritornerai non avrò ne pace più
Cara mia, ti voglio bene e t’amerò per sempre.”

Voltamos para a praça do evento, comprei outra camiseta (não resisti) e também uma pequena bandeira do Estado do Rio Grande do Sul, bordada, que agora encontra-se pendurada em meu quarto de dormir, para que a cada manhã, ao me enganar para sobreviver e levar-me avante, mirando o pendão farroupilha eu possa cantar:

Rio Grande do Sul
O gaucho quer cantar
A querência, o céu azul,
O verdes pampas e o mar

E as mulheres que são belas,
As calmas noites nos rincões,
O céu bordado de estrelas,
Banco de heróis e tradições.

Rio Grande do Sul
Dos prados que não têm fim
Por maior que tu sejas Rio Grande
Caberás sempre dentro de mim.

(Cesar Oliveira e Rogério Melo)


Ou então:


Rio Grande do Sul
Vou-me embora sem amor
Vou-me embora do Rio Grande
Vou tão só com a minha dor

Levarei as lembranças comigo
De um amor que de olhares nasceu,
De um amor que depressa floriu,
Mas tão cedo morreu.

Rio Grande do Sul
Eu um dia voltarei
Prá rever o Rio Guaíba
Prá rever meu bem-querer

E depois se ela ainda quiser
Só nós dois a sonhar, a sorrir
Rio Grande do Sul
Vou chorar ao partir.
(Tito Madi)




Numa das laterais da praça nos sentamos numas mesas e ficamos conversando alegremente, molhando o verbo com cervejas, vinhos e rum, que empurravam o entulho de umas bolachinhas gostosas que o Canibal havia pego no meio do caminho para Dom Pedrito.

Nessa ceia nada santa estavam Canibal, Romeu, Formigão, Lasareno, Aninha, Véio Piti, Deise e eu. E de vez em quando, o Bebê.









Aninha e Deise foram assistir de perto a banda que tocava naquela hora. Ficaram lá algum tempo, e quando voltaram vieram enroscadas em duas bibas afetadas, relaxadas e detestáveis. E o pior foi que quando esse quarteto non sense chegou na volta das mesas em que estávamos, uma das bibas, de tão bêbada tonteou e caiu bem em cima de mim, sentando capenga em minha perna direita, com direito inclusive a foto desse fato triste. Minha primeira reação foi a de jogar a bicha magra sobre as mesas, mas como o Lasareno não ouviu meu pedido para segurar o vinho e o rum, tive que me conter sob pena de deitar ao chão uma garrafa de Concha y Toro especialíssima e uma ampola do nobre Captain Morgan.

Como a partir desse incidente o ambiente ficou bem desagradável, aproveitei o momento em que o Canibal e o Romeu se retiraram e que o Formigão saiu de fininho, e tratei de voltar sozinho para o hotel e usar meu tempo em coisa mais útil, deixando minhas bagagens ligeiramente arrumadas para o dia seguinte.

O Véio Piti teve que segurar a onda, ficando na praça de babá de sua esposa, da Aninha e das duas bichas loucas, magras e desagregadoras.

Depois soubemos que Aninha foi dormir, ou desmaiou, perto das 5:00 h da manhã.

 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 20 de maio 2012
 
   
   
  Acordamos cedo, tomamos um café reforçado, fechamos as contas do hotel espartano, encilhamos as motos e ficamos horas esperando pela Aninha, que se havia enroscado n’alguma coisa incerta e não sabida.




Creio que foi aí que ocorreu a desaguada involuntária do Formigão. Explico: o vivente estava com a bexiga plena, mas ficou fazendo firula no saguão do hotel. Quando finalmente se dirigiu para o quarto a fim de esvaziar sua bolsa urinária, pensou que o quarto estava chaveado com uma volta, e quando deu por si, faltava uma volta da chave para a porta se abrir, e o pobre, como que numa simulação de incêndio, lavou a porta, o corredor do hotel e inundou seus sapatos. Quase ligamos para o 193...

Por fim a noiva desceu e pudemos sair de Dom Pedrito às 10:30 h, não sem antes fotografarmos o Monumento à Paz Farroupilha na entrada da cidade.

Romeu e Canibal nos aguardavam, havia muito tempo, num posto de combustíveis na saída da cidade. Nos juntamos e seguimos sob céu maravilhoso numa viagem bem calma em 6 motos, a saber: Canibal, Romeu, Aninha, Lasareno, Formigão e eu.

Na altura de Bagé paramos num bolicho bem ajeitado para que o Canibal se comprasse um par de alpargatas feitas de raspa de couro. Chiques, as apargatas.

Seguimos então para a casa do Lasa em Candiota (RS), onde o Picaxú e a Cris já nos aguardavam. Lá chegando a Amália e o Cauê logo nos serviram um bom mate que sorvemos com insuspeito prazer.

Relaxamos numa conversa prá lá de animada de roda de chimarrão, e estar na casa da família do Lasareno é sempre um baita prazer. Na cozinha Amália e eu conversamos meio que ao pé do ouvido sobre coisas do coração (meu), e ela me disse coisas, e o Lasa depois também, que me deixaram com os olhos cheios d’água. Que bom seria se a Nanda lá estivesse para ter ouvido. Como eu amo o Lasa e sua família !


E fomos degustar o almoço delicioso preparado com esmero e muito carinho pela querida Amália. Aliás, comida da Amália é sempre sinônimo de um rango espetacular. Lembras daquela sopa, Nanda ?


Depois demos um tempo à nossa digestão, enquanto que o Canibal e o Romeu partiam para Rio Grande (RS) onde moram.

Pouco mas tarde nos despedimos do Lasa, da Amália e do Cauê com o coração apertado e agradecemos muito a eles pelo carinho com que somos sempre tratados ali, e num bonde formado por Picaxú & Cris, Aninha, Formigão e eu fomos para a casa da família do Picaxú em Camaquã, onde chegamos por volta das 18:00 h, e a Júlia, filha do Picaxú e da Cris nos aguardava com seu sorriso franco.

Mal tiramos nossas roupas de viagem e pusemos roupas leves, Cris foi preparar uma competente lasagna e Aninha, que não pode ver uma fila que já entra, foi fazer um arroz cheiroso, afinal toda mineira pilota muito bem um fogão. Picaxú, Formigão e eu ficamos tomando vinho, mate e cerveja, não necessariamente nessa ordem.




Jogamos muita conversa fora, mas falamos também de coisas sérias, e nesse quesito gosto muito de ter o Picaxú como interlocutor, pois o vivente é de rara lucidez e sempre me fala coisas que me acrescentam algo. Quem o conhece apenas em conversas de roda bagaceira não faz ideia do brilhantismo de suas colocações sagazes.

Jantamos muito bem os pratos feitos pela Cris e pela Ana, acrescidos de uma pizza muito gostosa, temperados por uma prosa agradável e feliz.

Pouco mais tarde, como estivéssemos todos bem cansados pelas muitas variáveis desse dia com muitas emoções no que me dizia respeito, fomos dormir numa noite aberta de temperatura amena, que induzia a um bom e reparador sono.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 21 de maio 2012
 
   
   
  Sabedor que eu era de que nesse dia eu sairia do estado do Rio Grande do Sul, apesar de ter dormido bem, me acordei antes do horário costumeiro, bem entristecido e com um aperto no peito.

Tomamos café, conferimos as tralhas e as motos, nos despedimos da família Picaxú com tristeza na alma e pegamos a rodovia BR-116 seguindo no rumo norte.

Paramos na Casa das Cucas na altura de Tapes (RS) num pit stop um tanto longo, talvez até porque inconscientemente eu quisesse protelar, ainda que por pouquíssimo tempo, minha saída das terras de Bento Gonçalves.

Mas prosseguimos, passamos por Porto Alegre, a minha romântica Porto dos Casais, rapidamente. Cruzamos a ponte do Guaíba e tomamos o rumo das praias, seguindo a partir daí pela aristocrática e sempre ótima e segura Free Way.

Chegando a Osório (RS) e reavistando os gigantescos cataventos da Usina Eólica de Osório, me voltou à cabeça a alegoria alucinada que eu já tivera ali em dezembro de 2011, de que tais cataventos eram descomunais moinhos de vento metálicos, e eu era um improvável Don Quixote tardio, pós-moderno e sem graça cavalgando meu Rocinante de aço a lutar inutilmente contra minha tristeza e solidão impostas pela indiferença e pelo desprezo dela. E eu era auxiliado por Formigão e Aninha travestidos de doublés de Sancho Pança.

Em Osório, onde começa (ou termina) a Free Way, entramos na Estrada do Mar, que liga Osório a Torres (RS), para que Aninha conhecesse essa estrada e também a famosa Tenda do Pelé, já no município de Torres.

Na Tenda do Pelé fizemos uma boa boquinha, pois a característica principal do lugar, além da insuspeita simpatia de todos que lá trabalham, é que quando o vivente chega ali lhe são ofertadas amostras de vários queijos e embutidos que por si só já arrefecem a fome. Quanto a sucos e garapa, pede-se um copo e eles servem uma jarra (a preço de um copo). É fantástico. Além disso, Aninha pediu pastel de carne e queijo, o glutão do Formigão um de palmito e um de banana, e eu um de camarão (nota 7). Saímos de lá satisfeitos, pois cada um dos dois tomou uma jarra de suco e eu uma de garapa.

De buchos cheios prosseguimos pelo acesso a Torres e entramos na rodovia BR-101 na Vila São João, e seguimos no rumo norte. Cruzamos a ponte sobre o Rio Mampituba, que nesse trecho materializa a divisa entre os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e o vazio que me invadiu só não era maior porque era vazio.

Em outras épocas meu sentimento ao cruzar essa divisa era de saudade só até voltar, de tristeza por sair da querência da mulher que amo e de ansiedade para chegar logo a hora de voltar a ter em meus braços novamente aquela que continua sendo a minha vida, meu tudo.

Mas agora, depois do ocorrido, eu já não tinha vontade de ficar, de ir, de voltar, de parar, ou de seguir. Eram um sentimento e uma sensação inexplicáveis, pois meu coração, minh’alma, meu querer e minha vida tinham ficado para sempre na região da fronteira sul da pampa gaucha. É, princesinha... serei um eterno aprendiz do teu amor. Porém...

“No hay bella melodia
En que no surjas tu
Ni yo quiero escucharla
Si no la escuchas tu
Es que te has convertido
En parte de mi alma
Ya nada me consuela
Si no estas tu tambien
Mas alla de tus labios
Del sol y las estrellas
Contigo en la distancia
Amada mia, estoy.”
(César Portillo de la Luz)
Apesar de estar morto por dentro e de não estar ligando para mais nada, não baixei a bola e segurei firme o timão. Seguimos firmes pela estrada porque não queríamos chegar tarde na casa do Verani & Nelci em São José (SC).

Ainda em Osório eu tinha enviado torpedos a alguns dos amigos gaúchos dos quais tenho o número de telefone na memória de meu celular, e também para Dona Waldéria, pessoa por quem tenho grande carinho e a quem admiro e respeito muito. Porém, suspeito que ela não tenha tido acesso à minha mensagem, mas valeu da mesma forma porque o que lhe escrevi foi do fundo do meu coração.




Fizemos uma parada extraordinária a apenas 10 km de São José por absoluta necessidade causada pelo stress do tráfego trancadíssimo da Grande Florianópolis (SC), por ter anoitecido e termos tido que limpar as viseiras de nossos capacetes da meleca provocada pelos muitos insetos, e por precisarmos desaguar com urgência.

E chegamos no Verani pouco antes das 19:00 h com muita vontade de confraternizar com este grande motociclista, grande parceiro e amigo de fé.

Daí desaceleramos, baixamos a adrenalina, matamos saudades dos nossos anfitriões e danamos a conversar sobre assuntos vários.

Logo depois tiramos o pó da estrada, telefonamos ao Gau que reside na vizinha Palhoça (SC) para que fosse ter conosco, mas ele estava chegando a Atibaia (SP) junto com o Marcelo Japonês. Marcamos então com ambos de nos encontrarmos no Churrasquinho Mú em São Paulo (SP) na quarta-feira subsequente, dia 23 de maio, para uma cachaçada.

Será bom registrar aqui que a rodovia BR-101, no seu trecho entre Araranguá (SC) e Imbituba (SC), está um caos, uma verdadeira merda.

Conversamos mais um bom tanto, e em meio ao bate-papo ecumênico, filosófico, conceitual, psicoanalítico, e motociclístico recebi ligações do Ademir, do Picaxú e da Thaís, minha filha mais velha.



Então fomos jantar o rango muito especial preparado pela Nelci, como sempre saborosíssimo, e com direito inclusive a churrascão. Bom demais !

Aninha e Formigão foram dormir enquanto que o Verani e eu ficamos assistindo da sacada dos fundos de sua casa, de camarote, a queima de fogos do encerramento da Festa do Divino Espírito Santo de São José. Bonito espetáculo.

E finalmente fui curtir o sono dos justos, ainda que eu possa não ser um deles.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 22 de maio 2012
 
   
   
  Na manhã serena de sol manso e luzidio acordamos calmamente, arrumamos (de novo) nossos panos de bunda, demos nossas barrigadas da alvorada para equilibrarmos a pressão intra-corpórea, tomamos um excelente café da manhã na ótima companhia da Nelci e do Verani, nosso cyborg preferido, tivemos mais um dedinho de prosa, nos despedimos da Nelci que ia trabalhar (afinal, alguém precisa trabalhar nessa bagaça) e traçamos nosso plano de voo final (ou quase).

Iríamos seguir para a terra dos Bandeirantes. Dormiríamos em Registro, no Vale do Ribeira (SP), e no dia seguinte chegaríamos à cidade de São Paulo indo diretamente para as Bocas de Moto, no centro, para que o Formigão desse andamento à solução do problema de sua roupa de viagem e para que Aninha comprasse um capacete novo para si.

Nos despedimos do Verani já com saudades, fomos para a estrada, a mesma rodovia BR-101, e continuamos com a proa para o Norte com tempo muito bom. Viajávamos na tranquilidade e na segurança das pistas duplas e na paz de Deus.

Fizemos um pit stop técnico em Joinville (SC) e outro a cerca de 15 km do acesso à Estrada da Graciosa, já no Estado do Paraná. Foi quando destrambelhei geral e propus à raça outra mudança de planos que me pareceu assaz interessante. Como a resposta foi positiva, jogamos para o alto a ida às Bocas de Moto em São Paulo e giramos nossa bússola para o Leste, seguindo para Morretes (PR).

Embicamos na secular, imperial, linda, charmosa, romântica e deslumbrante Estrada da Graciosa (PR-410) e a descemos como manda a liturgia, calmamente e ao sabor de suas infindáveis curvas acentuadíssimas, a maioria delas com calçamento em lajotas tão antigas quanto a saudade.

Tais curvas eram tantas e tão fechadas em cotovelo que finalmente decorei o número da placa de minha moto de tanto ver a rabeta da dita cuja.

Por fim chegamos à velha Morretes imperial, cortada pelo calmo, límpido e quimérico rio Nhundiaquara, formado pelos rios Mãe Catira e São João. A propósito, “nhundiaquara” significa em tupi-guarani, “buraco do peixe”.


Aninha estava embevecida e sem palavras com tudo que havia visto na descida da Serra da Graciosa e com o que estava vendo na cidadezinha acolhedora. Numa pracinha beira-rio, onde alguns garotos falavam sobre a plantação de uma certa erva na casa do primo de um deles, Aninha disse-nos algo com que concordo plenamente: - “Essa cidade gracinha é prá se namorar.”

Formigão, come di solito, estava zen e também muito feliz. De minha parte eu estava bem por adorar a aura de Morretes, e meu romantismo estava à flor da pele. Ah, minha bruxinha, minha princesinha... para que dar uma de durão e negar ? Me foi impossível conhecer-te impunemente, e definitivamente te amo por inteiro e para sempre.

Relaxamos um pouco os corpos e as almas à beira do Nhundiaquara e fomos para a Pousada Trilha da Serra, do amigo Márcio.



Baixamos a adrenalina com tira-gostos de queijos e presunto com pickles regado a cervejas enquanto criávamos coragem para nos instalarmos e para o jantar, que seria uma apoteose para essa nossa viagem tão rica em sensações e em sentimentos profundos, de grande significação no que concerne à alma humana.

Nesse ínterim me ligou o Márcio Mello dando conta de que estava em São Vicente (SP), e se colocando à nossa disposição para o que precisássemos naquela área. Obrigado, Márcio.




No limiar da noite o romantismo de Morretes tomou conta totalmente de mim, e então meu querer exacerbou-se. Inevitavelmente meus olhos brilharam d’água. Tive ímpetos de lançar mão de meu celular xing-ling e ligar ou enviar mensagem a ela, mas recordando sua recente fuga de mim, me contive. Chegava já de implorar. Mas mesmo assim, cacete... como eu a amo.



Depois de havermos eliminado o ranço da estrada e de termos deixado nossos ninhos em ordem para o sono que certamente viria avassalador após o jantar, saímos para um bordejo noturno na histórica cidadezinha incrustada no sopé da Serra do Mar, e chegamos ao Restaurante Serra e Mar para deglutirmos com totais prazer e vontade o tradicionalíssimo barreado, prato típico morretense carregado de história.

Abrimos os trabalhos daquela noite com cachaça de banana e vinho da casa. Aninha, fiel, preferiu cerveja.

De repente, do nada, Formigão impostou a voz e declarou solenemente, qual tenor interpretando a ópera Ainda, de Verdi : - “Tudo é uma questão de hermenêutica !” Concordei totalmente com ele, fosse lá o que ele tinha querido dizer. Motociclismo é, também, cultura.

Pedimos por fim o barreado acompanhado de frutos do mar, ainda que eu nunca tenha visto um pé de mariscos ou de polvos. Além do barreado propriamente dito, que é uma carne cozida por 12 horas em panela lacrada com barro, daí o seu nome, e adicionada de farinha a gosto, nos foram servidos arroz, salada, macarrão, berinjela, pão, peixe frito, peixe cozido, mariscos, polvo, camarão refogado ao molho, camarão frito, banana frita e cozida, e mais algumas coisas que me fogem à lembrança agora.

Comemos tudo de tudo e muito. Nos fartamos verdadeiramente. Para arrematar pedi bananas à milanesa com canela e um pote de sorvete, of course.

Resumindo, o barreado completo com frutos do mar é uma mistura acertada de tudo com muita coisa.

Voltamos ao hotel calmamente a pé, até porque de outra forma nos seria impossível àquela altura. Logo Formigão foi dormir e fiquei conversando um pouco com a Aninha. Quando ela foi dormir, fiquei solito no refeitório da pousada fazendo algumas anotações e decidindo comigo mesmo uma questão de alta indagação.

Depois, bem depois, como me habituei a dormir somente por volta das 2:00 h da madrugada por ficar esperando inutilmente por um certo telefonema sob a cortesia da mamãe TIM, fiquei cismando um pouco sobre a importância cabal da hermenêutica em minha vida e fui dormir com a lua alta.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 23 de maio 2012
 
   
   
  Acordamos cedo, mas com a calma dos anjos, pois devidos ao sereno forte da noite e à neblina da madrugada, houvemos por bem aguardar um pouco para pegarmos estrada, para que o calçamento secular e escorregadio da Estrada da Graciosa no miolo da serra, que subiríamos para atingirmos a rodovia Regis Bittencourt (BR-116), secasse ao menos um pouco porque não queríamos incorrer em quedas evitáveis.

Tivemos um desjejum razoavelmente bom, traçamos mais uma alteração de plano de voo para que não tivéssemos que atravessar a cidade de São Paulo no sentido Leste-Oeste no início ou meio da tarde, nos aliviamos com barrigadas prazerosas, fechamos nossas contas e saímos de Morretes pouco antes das 10:00 h.

Iniciamos a subida da Estrada da Graciosa com muita calma e com renovados espanto e encantamento.

Fizemos duas ou três paradas para fotos porque ao longo dessa estrada, que para mim é a mais linda de todo nosso país sem comando, o visual é espetacular, e muitas vezes de tirar o fôlego.





Redesenhando as curvas alucinantes com as rodas de nossas lambretas, pudemos conferir as matrículas de cada uma das nossas semoventes.




A Estrada e a Ferrovia da Graciosa, que estão em meio a Quatro Barras (PR), Morretes, Paranaguá (PR) e Antonina (PR), cortam a região onde se localiza o que restou de Mata Atlântica no Estado do Paraná, e hoje sua população e os grupos de preservação defendem com unhas, alma e dentes sua preservação e manutenção. Parabéns ao povo paranaense.

Por fim atingimos a BR-116 e seguimos por ela no rumo Norte numa viagem tranquila e sem nada que justificasse menção, malgrado seu excessivo tráfego de caminhões. Apenas um adendo nesse trecho: Aninha estava irritadiça por conta da sua TPM, mas segurava a onda com galhardia.

Entre Embú das Artes (SP) e Taboão da Serra (SP) entramos no Rodoanel de São Paulo. Para evitarmos a cidade de São Paulo, como já dito retro, seguimos até o final do Rodoanel e passamos a rodar por estradas vicinais, com visuais ora dantescos ora lindos, sem meio termo. Tais estradazinhas nos levaram a Caieiras (SP), Franco da Rocha (SP) e Mairiporã (SP), onde entramos na rodovia Fernão Dias (BR-381) e por ela seguimos no rumo Sul. Depois de exatos 23 km através da BR-381, chegamos a Guarulhos (SP) e à minha moradia no Parque Cecap.

Enquanto eu levava toda minha tralha de estrada para o apartamento, Aninha e Formigão relaxaram com umas quantas Devassa, e começaram a se aprontar para irmos ao Churrasquinho Mú mais tarde.

Por fim tomei um banho demorado, me pilchei e fomos nos encontrar com amigos motociclistas porretas no famoso Mú.

Lá chegando, já nos aguardavam Gau, Marcelo Japonês, Márcio Mello, Clau, Juça Bala, Clóvis, Wandeis e outros mais. Comemos kafta, queijo de coalho, maminha e truta com alcaparras e batatas ao molho de chimichurry, tudo preparado com esmero, competência e carinho pelo Zé. Nessa oportunidade não poderíamos deixar de comemorar com o legítimo rum Captain Morgan. Evidentemente Aninha foi de cerveja. Mais tarde chegou o Gilmar, e foi tudo muito, muito bom.

Voltamos para casa, falamos mal de alguns poucos e fomos dormir.
 
   
   
  Por:MARCÃO MARTINS Em 20/06/2012

Dia 24 de maio 2012
 
   
   
  Acordamos tarde e para completar Aninha e Formigão arrumaram suas bagagens preguiçosamente. Quando estava tudo pronto na garagem, Aninha detectou um possível vazamento de combustível em sua moto, e teve que desfazer quase que toda a arrumação das suas bagagens para ter acesso à parte de baixo do banco.

Vimos que não era nada grave e que por hora o vazamento cessaria, mas assim que possível ela teria que substituir uma das mangueiras de combustível.

Fomos todos tomar café da manhã quase na hora do almoço num posto na rodovia Ayrton Senna SP-070, por onde a dupla dinâmica seguiria viagem até seus lares.

Depois eles reabasteceram suas motos, nos despedimos quase que sem palavras, tomados que estávamos pela emoção forte, e eu os comboiei até o primeiro trevo de retorno na altura de Santa Izabel (SP).

De lá os dois seguiram juntos até o final do complexo das rodovias Ayrton Senna/Carvalho Pinto, entraram na Rodovia Presidente Dutra (BR-116) e seguiram pelo Vale do Paraíba (SP) até a cidade de Volta Redonda (RJ). De lá Formigão seguiu pela mesma estrada até a Ilha do Governador (RJ) e Aninha subiu para Juiz de Fora (MG) pela rodovia BR-040 depois de ter passado por Três Rios (RJ). E os dois chegaram muito bem, satisfeitos, felizes e foram muito bem recepcionados em suas jurisdições. Eu voltei para minha casa triste e só, muito só.

Queremos agradecer a todos e a cada um que tornou essa nossa viagem melhor, aos que nos encontraram pelo caminho, aos que nos auxiliaram e nos recepcionaram em suas cidades, e a todos que nos sorriram, nos abraçaram e nos beijaram. Gracias !

Agradecemos principalmente a Deus, e por que não à Yamaha, à Suzuki e à BMW por fabricarem motos quase que totalmente confiáveis ?

Agradecimento meu mais que especial à Aninha e ao Formigão, pois sem a companhia deles me teria sido muito difícil rodar todas essas léguas com o coração e a alma no estaleiro, arrebentados. Obrigado por entenderem tão bem o amor que sinto por ela, e por compreenderem minha tristeza e meu, por vezes, alheamento. Vocês são parceiros verdadeiramente de fé, e sou um privilegiado por privar da sólida amizade, do carinho e do amor de vocês. Gracias, muchisimas gracias !


Beijo em todos e até a próxima.

Marcão, em 20 de junho de 2012